" A NOSSA ESCOLA REALMENTE FAZ A DIFERENÇA "

segunda-feira, 25 de março de 2019

ENCANTOS DO QUILOMBO: MEMÓRIA DE UM POVO


Camila Souza SILVA¹; Clarice Figueredo da SILVA²;
Indyanara Martins VIANA¹; Izabela Moreira dos SANTOS²;
Karina Figueredo da SILVA¹ Marta Neves GUEDES³ 
¹Discentes do 3° ano do ensino médio da Escola Estadual Antônio Correa e Silva ²Discentes do 2° ano do ensino médio da Escola Estadual Antônio Correa e Silva ³ Docente da disciplina História da Escola Estadual Antônio Correa e Silva Autor (a) responsável: marta.guedes@educacao.mg.gov.br

RESUMO O presente artigo tem como questão central a comunidade quilombola de Alegre, localizada no Distrito de Riacho da Cruz, município de Januária, Minas Gerais. O propósito com esta pesquisa foi investigar a origem desse povoado. Quem foram seus fundadores, suas tradições e como essas se mantém ativas atualmente. Analisamos essa história através de entrevistas com moradores mais velhos, observações e tabulações de dados levantados em pesquisa de campo. Este trabalho se refere aos resultados da prática pedagógica de Iniciação Cientifica no ensino médio realizado pelos alunos do Núcleo de Pesquisa da Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva. Esta instituição de ensino está localizada na Comunidade Quilombola de Alegre e foi criada em 1983 de acordo com o Decreto nº 22.761 de 11/03/83. Esta está inserida na zona rural, por isso, também é denominada como escola do Campo. A comunidade tem passado por significativas mudanças ao longo dos anos. Essas mudanças percebidas pelos moradores se deve a chegada da luz, abastecimento de água, escola, pavimentação de estrada, sinal telefônico, internet, entre outros, a partir da década de 1980. Para os moradores mais velhos essas mudanças são vistas como elementos transformadores da vida tradicional, pois trazem consigo os benefícios da modernidade mais também o desequilíbrio social do grupo, pois para eles as novas formas de socialização e necessidades de consumo, desestimulam os mais jovens a manter as tradições culturais.

Palavras-chave: História Oral, Memória, Quilombo, Tradição oral, Cultura

ABSTRACT The present article has as central question the quilombola community of Alegre, located in the District of Riacho da Cruz, municipality of Januária, Minas Gerais. The purpose of this research was to investigate the origin of this settlement. Who were its founders, their traditions and how these remain active today. We analyzed this history through interviews with older residents, observations and tabulations of data collected in field research. This work refers to the results of the pedagogic practice of Scientific Initiation in high school conducted by the students of the Research Center of the Antônio Corrêa e Silva State School. This educational institution is located in the Quilombola Community of Alegre and was created in 1983 according to Decree nº 22.761 of 11/03/83. This is inserted in the rural area, so it is also called as school of the Field. The community has undergone significant changes over the years. These changes, perceived by the residents, are due to the arrival of light, water supply, school, road paving, telephone signal, Internet, among others, from the 1980s. For older residents these changes are seen as transforming elements of traditional life, because they bring with them the benefits of modernity, as well as the social imbalance of the group, since for them the new forms of socialization and consumption needs discourage the younger ones to maintain cultural traditions. Keywords: Oral History, Memory, Quilombo, Oral tradition, Culture.

INTRODUÇÃO 

Este artigo propõe conhecer a comunidade quilombola de Alegre, localizada no Distrito de Riacho da Cruz, município de Januária, Minas Gerais de forma a registrar sua origem, seus fundadores, buscando a valorização do legado na região onde se situa. Para tanto, a pesquisa contou com estratégias metodológicas, através da pesquisa de campo para compreensão das manifestações culturais e do importante legado desta comunidade. A comunidade de Alegre foi certificada como Remanescente de Quilombo, pela Fundação Palmares em 08 de agosto de 2012. A partir de então essa comunidade através de seus moradores tem buscado cada vez mais a valorização de suas raízes. Em parceria com a comunidade, a Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva tem feito um significativo trabalho através de seus Projetos Políticos Pedagógicos, no sentido de contribuir para a afirmação do educando com a sua própria identidade, como sujeito integrante de uma sociedade e da sua própria história. E foi com o intuito de tornar o aluno agente pesquisador de sua própria história, que desenvolvemos essa pesquisa, levando-os a conhecerem suas origens, se reconhecerem como membros de uma sociedade plural e diversa e valorizarem a cultura oral e histórica de sua comunidade. A proposta desse trabalho surgiu em outubro de 2017,quando o NUPEAAS - Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afrobrasileiros e da Diáspora, propôs as escolas a inserção de Projeto de Iniciação Científica a estudantes da educação básica. A ideia foi repassada a meus alunos e no decorrer do ano de 2018, com um grupo de cinco estudantes pesquisamos a história da comunidade. A ideia de se pesquisar a comunidade, foi justamente por ter percebido que meus alunos em sua maioria não conhecem a historia de seu lugar. Para iniciarmos nossos trabalhos, fizemos um senso populacional, para termos conhecimento da comunidade atualmente, no que se refere a: número de moradores, cor, religião, profissões, para termos um parâmetro para as mudanças ocorridas. A partir desse conhecimento, partimos para o resgate da história do surgimento da comunidade com os moradores mais velhos. DESENVOLVIMENTO O objeto de pesquisa deste trabalho é o estudo do povoado de Alegre, localizado no Distrito de Riacho da Cruz, município de Januária – Minas Gerais, conhecido como remanescente de quilombo ou simplesmente comunidade quilombola de Alegre. Ao analisarmos a história desse povo percebemos que não há enraizado na cultura local nada que descende da cultura africana, mais também não podemos afirmar que não há ali características da cultura quilombola. Como diz Batista (2011), “seria impossível, pois esta está intrínseca ao modo de vida de qualquer brasileiro”. E ainda segundo Carril (2017), a partir de 2003 com o Decreto nº 4887, que regulamenta os procedimentos para identificação, reconhecimento, demarcação e titulação das terras quilombolas, o que passa a vigorar é que: *Informação retirada das entrevistas realizadas com os moradores mais velhos da comunidade. Os próprios sujeitos definem sua identidade a partir da organização social e pelos critérios construídos no seu modo de vida, concernentes às características de uso dos recursos e dos laços comuns aos seus integrantes que tradicionalmente, estabeleceram. (CARRIL, 2017: pag 06) Dessa forma, esses remanescentes se valem de suas histórias de continuidades, descontinuidades, permanências e modos de vida em comum para se auto definirem. As vivencias diárias, a luta pela sobrevivência em uma sociedade marcada pela desigualdade, pelo preconceito torna esse grupo forte e unidos na busca pela afirmação de uma comunidade coesa, com características próprias. Com nossa pesquisa, verificamos que a história desse povoado está totalmente relacionada com a do Sr. Eulino Lino de Jesus, considerado como o fundador dessa comunidade*. Eulino Lino de Jesus nasceu 05 de junho de 1905, em um povoado chamado Guarda-mor, filho de Egidio e Joana Lima de Jesus. Casou por volta de seus 20 anos com Etelvina Martins dos Santos. Não tiveram filhos biológicos, mais adotaram doze, todos filhos de parentes. Com a morte se sua esposa casou novamente com Alvina Gonçalves, com quem também não teve filhos. Seus descendentes não sabem afirmar com precisão a data de seu falecimento. O Sr. Eulino mudou-se para a região do Alegre ainda jovem, devido à proximidade com o Rio São Francisco, de onde assim como as demais famílias ribeirinhas tirava seu sustento. Sr. Eulino e várias outras famílias moravam em povoados as margens do rio. Segundo Lino Soares dos Santos, um dos filhos adotivos do Sr. Eulino, onde hoje é o Alegre era tudo mata: Quando eu era pequeno, eu lembro, isso aqui era tudo mata e esconderijo de índios, a gente vinha para o alto ( Alegre) por roça encontrava muitos objetos de cerâmica , (cacos de panelas, potes) e a medida que as pessoas foram chegando esses índios foram afastando ( LINO) Não foi encontrado por nossas pesquisas registros escrito, mais de acordo com os relatos dos moradores mais velhos, as primeiras famílias a morar no Alegre chegaram ao inicio do século XX. Como nos relatou Lino Soares os antepassados e até mesmo alguns moradores que atualmente vivem na comunidade viviam próximo ao Rio São Francisco e subiam para o Alegre para por roça de mandioca, mamona, INTRODUÇÃO Este artigo propõe conhecer a comunidade quilombola de Alegre, localizada no Distrito de Riacho da Cruz, município de Januária, Minas Gerais de forma a registrar sua origem, seus fundadores, buscando a valorização do legado na região onde se situa. Para tanto, a pesquisa contou com estratégias metodológicas, através da pesquisa de campo para compreensão das manifestações culturais e do importante legado desta comunidade. A comunidade de Alegre foi certificada como Remanescente de Quilombo, pela Fundação Palmares em 08 de agosto de 2012. A partir de então essa comunidade através de seus moradores tem buscado cada vez mais a valorização de suas raízes. Em parceria com a comunidade, a Escola Estadual Antônio Corrêa e Silva tem feito um significativo trabalho através de seus Projetos Políticos Pedagógicos, no sentido de contribuir para a afirmação do educando com a sua própria identidade, como sujeito integrante de uma sociedade e da sua própria história. E foi com o intuito de tornar o aluno agente pesquisador de sua própria história, que desenvolvemos essa pesquisa, levando-os a conhecerem suas origens, se reconhecerem como membros de uma sociedade plural e diversa e valorizarem a cultura oral e histórica de sua comunidade. A proposta desse trabalho surgiu em outubro de 2017,quando o NUPEAAS - Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afrobrasileiros e da Diáspora, propôs as escolas a inserção de Projeto de Iniciação Científica a estudantes da educação básica. A ideia foi repassada a meus alunos e no decorrer do ano de 2018, com um grupo de cinco estudantes pesquisamos a história da comunidade. A ideia de se pesquisar a comunidade, foi justamente por ter percebido que meus alunos em sua maioria não conhecem a historia de seu lugar. Para iniciarmos nossos trabalhos, fizemos um senso populacional, para termos conhecimento da comunidade atualmente, no que se refere a: número de moradores, cor, religião, profissões, para termos um parâmetro para as mudanças ocorridas. A partir desse conhecimento, partimos para o resgate da história do surgimento da comunidade com os moradores mais velhos. DESENVOLVIMENTO O objeto de pesquisa deste trabalho é o estudo do povoado de Alegre, localizado no Distrito de Riacho da Cruz, município de Januária – Minas Gerais, conhecido como remanescente de quilombo ou simplesmente comunidade quilombola de Alegre. Ao analisarmos a história desse povo percebemos que não há enraizado na cultura local nada que descende da cultura africana, mais também não podemos afirmar que não há ali características da cultura quilombola. Como diz Batista (2011), “seria impossível, pois esta está intrínseca ao modo de vida de qualquer brasileiro”. E ainda segundo Carril (2017), a partir de 2003 com o Decreto nº 4887, que regulamenta os procedimentos para identificação, reconhecimento, demarcação e titulação das terras quilombolas, o que passa a vigorar é que: *Informação retirada das entrevistas realizadas com os moradores mais velhos da comunidade. Os próprios sujeitos definem sua identidade a partir da organização social e pelos critérios construídos no seu modo de vida, concernentes às características de uso dos recursos e dos laços comuns aos seus integrantes que tradicionalmente, estabeleceram. (CARRIL, 2017: pag 06) Dessa forma, esses remanescentes se valem de suas histórias de continuidades, descontinuidades, permanências e modos de vida em comum para se auto definirem. As vivencias diárias, a luta pela sobrevivência em uma sociedade marcada pela desigualdade, pelo preconceito torna esse grupo forte e unidos na busca pela afirmação de uma comunidade coesa, com características próprias. Com nossa pesquisa, verificamos que a história desse povoado está totalmente relacionada com a do Sr. Eulino Lino de Jesus, considerado como o fundador dessa comunidade*. Eulino Lino de Jesus nasceu 05 de junho de 1905, em um povoado chamado Guarda-mor, filho de Egidio e Joana Lima de Jesus. Casou por volta de seus 20 anos com Etelvina Martins dos Santos. Não tiveram filhos biológicos, mais adotaram doze, todos filhos de parentes. Com a morte se sua esposa casou novamente com Alvina Gonçalves, com quem também não teve filhos. Seus descendentes não sabem afirmar com precisão a data de seu falecimento. O Sr. Eulino mudou-se para a região do Alegre ainda jovem, devido à proximidade com o Rio São Francisco, de onde assim como as demais famílias ribeirinhas tirava seu sustento. Sr. Eulino e várias outras famílias moravam em povoados as margens do rio. Segundo Lino Soares dos Santos, um dos filhos adotivos do Sr. Eulino, onde hoje é o Alegre era tudo mata: Quando eu era pequeno, eu lembro, isso aqui era tudo mata e esconderijo de índios, a gente vinha para o alto 
(Alegre) por roça encontrava muitos objetos de cerâmica , (cacos de panelas, potes) e a medida que as pessoas foram chegando esses índios foram afastando ( LINO) Não foi encontrado por nossas pesquisas registros escrito, mais de acordo com os relatos dos moradores mais velhos, as primeiras famílias a morar no Alegre chegaram ao inicio do século XX. Como nos relatou Lino Soares os antepassados e até mesmo alguns moradores que atualmente vivem na comunidade viviam próximo ao Rio São Francisco e subiam para o Alegre para por roça de mandioca, mamona, algodão, e na época de cheia do rio todos subiam para o alto (Alegre) até que as águas baixassem novamente. Isso foi feito por longos anos. Essas terras do alto como ele costumavam chamar, pertenciam a Dona Brasilina Carlos Ferreira, fazendeira e moradora do distrito de Riacho da Cruz. Dona Brasilina herdou essas terras do seu falecido marido Antônio Carlos Ferreira, como consta da Certidão do Cartório do 1º Oficio de Notas, de Januária. Como as cheias eram constantes e o território era somente mata, Dona Brasilina, não se importava que suas terras fossem ocupadas por esses ribeirinhos que chegavam mesmo a fazer cabanas para se abrigarem no período da cheia. Em uma dessas cheias não se sabe a data exata, o Sr. Eulino decidiu ficar morando no alto e descia para a beira do rio apenas para pescar e cuidar da plantação. Assim como ele, as famílias do Sr. Cassimiro, Simião, José Martins e Luís Gonzaga também fizeram o mesmo. Em 1944, no dia 21 de janeiro o Sr. Eulino Lino de Jesus, o Sr. Cassimiro Pereira de Souza e José Martins dos Santos, compraram de Dona Brasilina as terras do Alegre. Uma área de 67,76 hectares de terras de mato e campos, por Novecentos e oitenta cruzeiros ( Cr$ 980,00). Tendo sido assim discriminada: 43,56 hectares do Sr. Eulino, 19,36 de José Martins e 4,84 de Cassimiro Ferreira. O Sr. Eulino com Dona Etelvina sua esposa foram, portanto os primeiro moradores da comunidade, tendo se fixado ali desde antes da compra do terreno. Segundo o Sr. Geraldo, a população ribeirinha foi mudando aos poucos para o povoado do Alegre, a partir de 1979 com uma grande enchente que então, decidiram se mudar definitivamente. Passaram então a comprar terrenos do Sr. Eulino e outros moradores que lotearam suas terras, para construção de suas casas. Os habitantes da comunidade viviam da economia de subsistência. O excedente vendia na cidade para comprar produtos que não produziam, como sal, café tecidos. Eles plantavam: milho, mandioca, mamona, feijão de corda, produziam a farinha, tapioca, rapadura e aguardente. Criavam porcos, galinha, e viviam também da pesca. Para o Sr. Valdomiro Martins, era uma época de muita fartura, chovia muito e as terras eram muito boas para o cultivo: “tudo que se plantava, cultivava e era compartilhado”. As pessoas eram muito solidárias e unidas, todos se respeitavam e procuravam sempre ajudar o próximo. Para Dona Nila por essas questões era um tempo bom de viver, contudo, tudo era mais difícil. Tinha que apanhar água em latas na cabeça, todos iam para roça homens, mulheres e crianças, não havia energia elétrica, o único meio de transporte era o carro de boi, ou irem a pé para cidade, as mulheres tinham seus filhos em casa com as parteiras e muitas crianças morriam do “mal de sete dias”. Doentes eram transportados para cidade de carro de boi ou levados pelos moradores em redes e a escola mais próxima era a léguas de distância em uma comunidade chamada Conceição. Assim se viva no povoado de Alegre, que nos registros de cartórios, juntamente com outros povoados era denominada Fazenda Cruz. Aqui está outro ponto de nossa investigação, porque essa comunidade se chama Alegre. Não encontramos um ponto em comum nos relatos de nossos entrevistados. A maioria disse que não sabiam, outros diziam apenas que cresceram com esse nome e não sabem por quê. O Sr Valdomiro relatou que desde 1945 quando mudou para o Alegre aos cinco anos de idade o povoado já tinha esse nome. Lino Soares, disse que certa vez o seu pai adotivo o Sr. Eulino contou a ele que houve uma grande enchente e que os moradores como de costume subiram todos para o alto. Como chovia muito e não tinha o que fazer, Dona Etelvina, organizou uma folia de reis e o povo ia tocar e beber, todos muito contentes. Os moradores de outros povoados vinham para comprar peixe e ao chegar viam aquele povo sempre festejando, alegres e diziam: “nossa como o povo aqui é alegre”. Assim ficou sendo conhecido o povoado. Conforme os relatos de Lino, Dona Etelvina era devota de São João Batista, por esse motivo construiu uma cômodo (espécie de um quartinho) onde colocou um quadro do santo para fazer suas orações. E com o tempo começou fazer a novena em devoção a São João Batista. Seu esposo Sr Eulino então decidiu doar o terreno para a construção de uma igreja para a comunidade, que foi construída com a ajuda dos demais moradores. Os festejos de São João passaram a fazer parte da tradição local. Segundo Dona Nila, durante a novena, a cada dia tinha um festeiro e após a celebração tinha o forró, puxado somente a sanfona e regado a bebida ( pinga) doada pelo festeiro do dia. Além dos festejos de São João Batista, havia também o São Gonçalo que é feito a partir de uma promessa ao santo. E a folia de Reis. Para os entrevistados essas manifestações eram acompanhadas por todos que esperavam ansiosos a cada ano pelos festejos. Atualmente essas manifestações estão desaparecendo. Dona Zilda Soares, uma das moradoras da comunidade, tenta segundo ela manter essas tradições vivas, “ mais está cada vez mais difícil porque cada vez mais a população se interessa menos por essas manifestações principalmente os jovens” ( Zilda). Zilda Soares dos Santos, hoje com 55 anos, sempre foi muito atuante na comunidade e desde jovem já estava à frente da organização e preservação dessas tradições. A comunidade nem sempre foi assistida pelo poder público e somente na década de 1980, através de reivindicações dos moradores da época que a população passou a ter acesso à energia elétrica, água encanada e uma escola da rede estadual que passou a atender de 1ª a 4ª série, como nos relatou Dona Enedina e Sr. Arnaldo Castanha. Segundo eles após formar a Associação que essas conquistas foram sendo conseguidas. Atualmente o povoado conta com um numero estimado de 632 moradores. Desses 52% se declaram de cor preta, 39% de cor parda e 6% de cor branca, como nos mostra o gráfico.

Figura 1 – Gráfico de classificação de moradores por cor


No que se referem à economia da comunidade, as famílias em sua maioria sobrevivem da lavoura, da pesca e de incentivos do governo como o Programa Bolsa Família. 

Figura 2 – Gráfico de classificação de moradores por profissão

 Analisamos com esses dados que predomina na comunidade as profissões herdadas de seus antepassados. Contudo nos períodos de safra no sul do estado e do país, um grande número de jovens e chefes de família migra em busca de trabalho, ficando responsáveis pela manutenção do lar às mulheres e os avós aposentados. Na comunidade não há um espaço cultural que evidencie suas raízes. Assim as crianças e adolescentes têm na escola local, o único espaço de integração, socialização e construção do conhecimento. E o fato de terem a escola como espaço de socialização, todos se relacionam harmoniosamente, mantendo laços de amizades e afetividade. 

CONCLUSÃO 

A comunidade possui uma história que foi construída ao longo do tempo através do que há de comum na vida de todos os moradores desse lugar. Analisando relatos de nossos entrevistados e refletindo com os alunos pesquisadores sobre os dados de nossa pesquisa, pensamos que essa comunidade ainda carece de um meio maior de preservação de cultura para que suas tradições não se percam. Os dados que conseguimos para nossa pesquisa foram unicamente através das entrevistas concedidas pelos moradores, ou seja, da oralidade. Contudo a tradição oral com o tempo se perde, se ela não for também preservada. Nesta comunidade poucos ou quase nenhum jovem sabe reproduzir a história de seu lugar. Para Tedesco (2010), é “.... fundamental a reconstituição da memória, porque a sociedade da informação, da técnica e da racionalidade econômico-consumista faz o tempo andar mais rápido....” É fundamental considerar que a comunidade muito tem conquistado pelos seus moradores. Contudo, a história desse lugar está guardada na memória de seus moradores mais velhos. E é necessário manter essa história oral viva e preservada, pois nela esta a identidade da comunidade. 

REFERÊNCIAS 

BATISTA, Paula Carolina. Políticas Públicas Para Construção da Identidade Quilombola.USP. 2011. CARRIL, Lourdes de Fatima Bezerra. Os desafios da educação quilombola no Brasil. Revista Brasileira de Educação. v. 22 n. 69 abr.-jun. 2017 TEDESCO, João C. Nas Cercanias da Memória: temporalidade, experiência e narração.In Picoli. Bruno A. Memória, História e Oralidade. Mnemosine Revista. V. 1, nº 1 . jan/jun , 2010.

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